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Central de Material Esterilizado: campo em crescimento para atuação do enfermeiro

A vocação é fundamental para quem opta por se tornar um profissional de Enfermagem. Geralmente, pesa na decisão a vontade de trabalhar diretamente no atendimento aos pacientes. Essa concepção não está errada, mas o campo de atuação deste profissional pode ir muito além das enfermarias. Os próprios enfermeiros, por vezes, não têm consciência disso. Atualmente, por exemplo, tem crescido a importância de quem atua na Central de Material Esterilizado (CME) de hospitais ou em empresas do ramo de esterilização. Nesta área, o enfermeiro presta importante atendimento a pacientes, mas de maneira indireta. Isso porque garante a qualidade dos materiais médico-hospitalares utilizados durante o atendimento.

Durante muitos anos, a CME ficou praticamente “invisível” dentro dos hospitais. Mas, após a publicação da RDC n° 15 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2012 e posterior vigência a partir de 2014, os olhos da administração se voltaram para o setor. A RDC n° 15 “dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde”. Juntamente com os requisitos apresentados na resolução, houve crescimento da fiscalização, que ficou cada vez mais rigorosa.

Paralelamente às alterações na legislação, ocorreu o avanço tecnológico dos equipamentos, que estão mais modernos, sofisticados, delicados e caros. Isso passou a exigir dos enfermeiros da Central de Material Esterilizado constantes atualizações, tanto relacionadas a procedimentos quanto a novos equipamentos. Aos olhos da administração, essa qualificação torna-se ainda mais relevante ao serem analisados os custos dos equipamentos.  Uma pinça utilizada em cirurgia robótica, por exemplo, custa cerca de R$ 10 mil. Além de caras, são delicadas e exigem, inclusive, lavadoras específicas.

Um novo tempo para a Central de Material Esterilizado

Por realizar um procedimento complexo no processamento desses materiais – bem diferente de um passado recente, quando era feito apenas com as etapas de lavagem, secagem e autoclave –, o enfermeiro da CME tem sido cada vez mais valorizado. Inclusive, ele é acionado tão logo o cirurgião demonstre o desejo de utilizar um novo equipamento. O enfermeiro deverá verificar a conformação do material, se é passível de passar por processamento e se esse processamento pode ser feito dentro do hospital. Caso não seja viável realizar dentro da unidade de saúde, será necessário enviá-lo a uma empresa especializada, como a Unistéril, que segue todas as normas para o processamento de materiais hospitalares.

Neste cenário, não é de se estranhar que cresceu a relevância da CME, bem como a necessidade de profissionais capacitados. Chegou ao fim o tempo em que eram destinados à Central de Material Esterilizado profissionais com dificuldades de relacionamento. Também era comum que a área recebesse pessoas que retornavam após afastamento por motivo de saúde. Isso ficou para trás. Atualmente, o que é levado em consideração na hora de escolher o corpo de profissionais são o conhecimento, a habilidade técnica e a capacidade de gerenciar estoques, insumos e equipamentos e suas manutenções e qualificações periódicas.

RDC n° 15: novos parâmetros para a Central de Material Esterilizado

A RDC n° 15 estabelece que a CME deve contar “com um profissional responsável de nível superior para coordenar todas as atividades relacionadas ao processamento de produtos para a saúde (PPPS), de acordo com as competências profissionais”. Descreve, ainda, que a atuação do profissional deve ser exclusiva nesta unidade. E é o enfermeiro o profissional capacitado e que reúne condições imprescindíveis para gerenciar o processamento. Isso porque recebe, em sua formação acadêmica, conteúdos específicos sobre boas práticas para o processamento de produtos para a saúde. Entretanto, ele deverá se capacitar após sair da faculdade, já que também vai precisar de conhecimentos não contemplados na graduação.

Além de ter amplo conhecimento sobre os processamentos e se atualizar constantemente em relação aos novos equipamentos, o enfermeiro que atua na CME também precisa ter conhecimentos relacionados ao gerenciamento, entre outros. Afinal, o setor presta atendimento a quase todo o hospital. Por exemplo: se faltar algum material médico-hospitalar no pronto-socorro, cuja responsabilidade seja da CME, haverá cobrança por isso. Essa atuação também pode ser observada na Resolução n° 424 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEn). Ela “normatiza as atribuições dos profissionais de enfermagem em Centro de Material e Esterilização (CME) e em empresas processadoras de produtos para saúde”.

Algumas atribuições do enfermeiro da CME

Resumidamente, o enfermeiro da CME deve:

  • planejar, coordenar, executar, supervisionar e avaliar todas as etapas do processamento (recepção, limpeza, secagem, avaliação da integridade e funcionalidade, preparo, desinfecção ou esterilização, armazenamento e distribuição);
  • atuar no controle de qualidade dos materiais e produtos preparados e dispensados;
  • participar da elaboração dos Protocolos Operacionais Padrão (POP) para as etapas e os processos de trabalho, com base em referencial científico e bases legais;
  • elaborar, acompanhar, monitorar e validar o registro da execução dos processos de limpeza, selagem e esterilização, além de outras atribuições.

Quanto ao gerenciamento, caberá a esse profissional:

  • elaborar e acompanhar a escala de funcionários para garantir cumprimento de todas as etapas necessárias aos processamentos;
  • atender representantes das empresas de equipamentos, insumos e terceirizações;
  • gerenciar todo o processo e as medidas necessárias à previsão e provisão de recursos, de forma que organize o arsenal para atender as demandas das unidades consumidoras, organizar as caixas de instrumentos de acordo com as necessidades das especialidades cirúrgicas;
  • responsabilizar-se pela saúde ocupacional dos profissionais que neste setor atuam, garantindo a adequada previsão e provisão de EPIs, bem como monitorar a utilização pelos profissionais, além de outras atribuições.

Como você deve saber, enfermeiro, nem todos os tipos de processamentos podem ser realizados na Central de Material Esterilizado do hospital. Em relação a alguns equipamentos, principalmente aos mais modernos, existe a necessidade de procedimentos especiais. Quer saber mais sobre o assunto? Acesse nosso blog e fique sempre atualizado!

Referências

Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC). Recomendações práticas para processos de esterilização em estabelecimentos de saúde. 6ª ed. São Paulo: Manole; 2013.

BARTOLOMEI, Silvia Ricci Tonelli; LACERDA, Rúbia Aparecida. Trabalho do enfermeiro no Centro de Material e seu lugar no processo de cuidar pela enfermagem. Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v.40, n.3, p.412-7, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v40n3/v40n3a13.pdf>. Acesso em: 4 out. 2018.

SILVA, Aline Costa da; AGUIAR, Beatriz Gerbassi Costa. O enfermeiro na Central de Material e Esterilização: uma visão das unidades consumidoras. Rev Enferm UERJ 2008; p. 377-81. Disponível em: < http://www.facenf.uerj.br/v16n3/v16n3a13.pdf>. Acesso em: 4 out.2018.

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